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    Estudo da USP aponta estratégias que ajudam a conter a disseminação de ‘superbactérias’ em hospitais

    A identificação rápida de pacientes contaminados por um tipo de “superbactéria” – as enterobactérias resistentes aos carbapenêmicos (CRE, na sigla em inglês) – e o isolamento precoce desses indivíduos reduzem a transmissão em áreas de internação de pronto-socorro (PS). No entanto, mantê-los por mais de dois dias na emergência compromete os esforços de contenção porque aumenta o risco de contaminação, a chamada colonização.



    A bactéria mais comum no estudo foi a Klebsiella pneumoniae, que pode levar à pneumonia e à infecção de corrente sanguínea. Imagem: NIAD/Wikimedia Commons


    Esses são os principais achados de uma pesquisa feita por um grupo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP).

    As enterobactérias são um tipo de bactéria (gram-negativas) que geralmente causam infecções em ambientes de saúde – hospitais e pronto-socorros – e incluem cepas como a Escherichia coli, responsável por infecções urinárias e colite hemorrágica, e a Klebsiella pneumoniae, que pode levar à pneumonia e à infecção de corrente sanguínea.

    As CRE são consideradas ameaça à saúde pública pela dificuldade de tratamento. Os antibióticos carbapenêmicos geralmente são a última linha de defesa contra infecções provocadas por esses microrganismos.

    “Fizemos uma intervenção em um pronto-socorro superlotado, ou seja, um hotspot para transmissão de bactérias resistentes. Vimos que essa intervenção teve um impacto na redução de bactérias multirresistentes dentro do PS e também no próprio hospital”, diz à Agência FAPESP o médico infectologista Matias Chiarastelli Salomão, primeiro autor do artigo e integrante da Subcomissão de Controle de Infecção Hospitalar do Instituto Central do Hospital das Clínicas (HC) da FM-USP.

    Estudos anteriores realizados no Departamento de Emergência já haviam demonstrado que 6,8% dos pacientes admitidos são colonizados por CRE, com uma taxa de contaminação de 18% durante a internação no local.

    Relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado em 2022, apontou que a cada 100 pacientes internados em hospitais para cuidados intensivos, sete – em países de alta renda – e 15 – em países de baixa e média renda – adquirem ao menos uma infecção associada à atenção à saúde durante a internação.

    Em média, um a cada dez pacientes afetados morrerá por este motivo.

    De acordo com Salomão, um dos focos do trabalho foi tentar entender e buscar alternativas para impedir que infecções no pronto-socorro se espalhassem para outras alas do hospital.

    “A intervenção que usamos é pragmática e pode ser aplicada em outros locais. Sobre o resultado relacionado à internação na emergência por mais de dois dias comprometer os esforços de contenção, acreditamos que seja uma questão de estrutura do PS, que não é adaptada para ter pacientes de longo prazo. Ou seja, tem macas mais próximas, pontos de higiene de mãos mais distantes, entre outros”, complementa.

    A pesquisa foi conduzida no pronto-socorro do Hospital das Clínicas da USP, que tem 800 leitos. Muitas vezes, porém, o local está superlotado, abrigando o dobro de pacientes internados, com alguns permanecendo por mais de 11 dias.

    O trabalho foi dividido em duas fases – uma realizada de 3 a 28 de fevereiro de 2020 (período de linha de base), antes de o primeiro caso de COVID-19 chegar ao HC, e a outra entre 14 de setembro e 1º de outubro do mesmo ano (período de intervenção).

    A fase 1 consistiu em um período inicial para determinar a prevalência e a incidência de pacientes colonizados por CRE admitidos no pronto-socorro.

    Não houve intervenção nessa etapa e os pacientes internados por mais de 24 horas ficaram em macas e camas distribuídas próximas umas das outras, enquanto aguardavam transferência.

    Na fase 2 (período de intervenção), indivíduos internados no PS passaram por triagem para CRE nas primeiras 24 horas. Os positivos para superbactérias eram colocados em isolamento até a alta – 90% dos isolados estavam infectados por Klebsiella pneumoniae.

    Em ambas as fases, os procedimentos de limpeza e desinfecção foram semelhantes e houve monitoramento de antimicrobianos.

    Resultado: a colonização na admissão foi de 3,4% por cultura e teste molecular. Já as taxas de contaminação por superbactéria durante a permanência no PS caíram de 4,6% para 1% durante a intervenção.

    O tempo de permanência maior do que dois dias foi o fator de risc para aquisição de CRE. (Luciana Constantino/Agência FAPESP)

    1 DE NOVEMBRO DE 2023



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