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    Saúde / Nutrição

    Consumo excessivo de alimentos ultraprocessados aumenta o risco de declínio cognitivo

    Pessoas que consomem diariamente mais de 20% de alimentos ultraprocessados correm o risco de sofrer declínio cognitivo acentuado, condição do cérebro que leva à perda da capacidade de realizar atividades que estão diretamente relacionadas ao dia a dia.



    Consumo excessivo de alimentos ultraprocessados aumenta o risco de declínio cognitivo. Foto: Josh Pereira/Unsplash


    Foi o que constatou uma pesquisa realizada com cerca de 11 mil pessoas, recrutadas em seis cidades brasileiras e acompanhadas por um período médio de oito anos. Ultraprocessados são aqueles alimentos industrializados, carregados de açúcares, gorduras, sal e substâncias sintetizantes (emulsificantes, conservantes) que, embora tenham alto teor calórico, possuem pouca composição nutricional.

    A quantidade relatada na pesquisa seria o equivalente a consumir diariamente mais de 400 calorias em alimentos industrializados (pão de forma, hambúrgueres de redes de fast-food, refrigerantes e bolachas recheadas, dentre outros), em uma dieta de 2.000 calorias/dia.

    Os resultados estão no artigo Association Between Consumption of Ultraprocessed Foods, Cognitive Decline publicado no períodico JAMA Neurology no dia 5 de dezembro, tendo como primeira autora a pesquisadora Natália Gomes Gonçalves, do Laboratório de Patologia Cardiovascular do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), e fazem parte de uma ampla pesquisa chamada Estudo Longitudinal Brasileiro de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil), que gera conhecimentos científicos sobre doenças crônicas no País.

    A coleta de dados ocorreu entre os anos de 2008 e 2017 e analisados entre dezembro de 2021 e maio de 2022.

    Natália explica ao Jornal da USP que o declínio cognitivo acontece naturalmente ao longo de todo o processo de envelhecimento. Porém, o que se constatou no estudo foi que houve perda acelerada de cognição entre todos os participantes da pesquisa, mesmo entre os mais jovens, por volta dos 35 anos.

    Segundo a pesquisadora, esse achado foi muito importante porque essa faixa etária é justamente a idade da janela mais importante para prevenção de doenças neurodegenerativas, que têm início bem antes da apresentação dos sintomas na velhice. “Nessa idade, as pessoas precisariam se preocupar em ter uma alimentação mais saudável para assegurar melhor saúde cerebral ao envelhecer”, diz.

    Cláudia Suemoto, professora da FMUSP, coordenadora da pesquisa e especialista em envelhecimento cerebral, demências e suas associações com doenças cardiovasculares, diz que a reserva cognitiva de uma pessoa começa a ser construída na infância e que o auge desse desenvolvimento acontece por volta da terceira década.

    Após esse período, há um declínio lento e progressivo associado ao envelhecimento. Porém, esse declínio pode ser mais rápido mediante a presença de alguns fatores de risco como hipertensão, diabete e obesidade. Agora, alguns estudos preliminares mais recentes estão demonstrando que os ultraprocessados também podem acelerar esse declínio.

    O estudo também mostrou que a alta ingestão dos ultraprocessados (superior a 20%) resultou em um declínio 28% mais rápido na função cognitiva global (a função cerebral que reúne todas as habilidades cognitivas, a de memória, a de fluência verbal e a função executiva) e 25% na cognição executiva (função do cérebro ligada às habilidades de planejamento, execução de tarefas e resolução de problemas).

    A comparação foi feita com pessoas que ingeriam menos de 20% de alimentos desse grupo.

    Segundo a pesquisadora, a idade influenciou na associação da porcentagem entre energia diária fornecida pelos ultraprocessados e função cognitiva.

    Participantes com menos de 60 anos com consumo de ultraprocessados superior a 20% apresentaram um declínio global mais rápido da cognição em comparação àqueles com consumo inferior a 20%.

    A associação do consumo desses produtos e a piora da cognição foi mais forte em pessoas de 35 a 59 anos, comparado com os participantes mais velhos. (Ivanir Ferreira/Jornal da USP)

    10 DE DEZEMBRO DE 2022



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